Apesar de ser um exame frequente na rotina hospitalar, a coleta de hemocultura ainda é feita de forma equivocada em muitos casos. Baseado nas diretrizes da Sociedade Americana de Doenças Infecciosas (IDSA, 2020), este post traz recomendações práticas sobre quando indicar ou não uma hemocultura, com base em evidências e impacto real na conduta clínica.
O que deve motivar a coleta de hemocultura?
A hemocultura só deve ser solicitada quando há suspeita de infecção de corrente sanguínea, como sepse, choque séptico, endocardite ou infecção endovascular. Se a suspeita for de infecção localizada (pulmonar, urinária, etc.), faz muito mais sentido coletar a cultura do sítio primário da infecção (urina, escarro, etc.).
Além disso, é preciso avaliar:
- Qual a chance da hemocultura vir positiva?
- E mais importante: ela vai mudar sua conduta terapêutica?
Se a resposta para essas perguntas for “não”, a coleta pode ser desnecessária, gerando apenas custos, riscos de anemia e até resultados contaminados que confundem o tratamento.
Três grupos de pacientes segundo o risco de bacteremia:
1. Baixo risco (menos de 10%)
➡️ Não coletar hemocultura.
Exemplos:
- Febre isolada
- Leucocitose isolada
- Cistite sem sinais sistêmicos
- Celulite não grave
- Pneumonias leves sem internação
2. Risco intermediário (10% a 50%)
➡️ Coletar hemocultura se:
- Há risco de infecção endovascular
- Não é possível coletar cultura do foco primário
- Resultado da hemocultura pode mudar o manejo
Exemplos:
- Pielonefrite
- Colangite
- Osteomielite vertebral
- Pneumonia grave ou associada à ventilação
3. Alto risco (mais de 50%)
➡️ Coletar hemocultura obrigatoriamente.
Exemplos:
- Suspeita de meningite
- Artrite séptica
- Infecção relacionada a cateter
- Endocardite
- Estafilococcia comprovada
Hemocultura de follow-up: quando repetir?
A coleta seriada de hemocultura tem indicação formal em casos de Staphylococcus aureus na corrente sanguínea. Nesses casos, o tempo de antibiótico deve ser guiado pela negativação da hemocultura.
Em outras infecções, só faz sentido repetir se:
- Há foco infeccioso não controlado
- Existe suspeita de infecção persistente sem melhora clínica
Conclusão:
Não peça hemocultura “por desencargo”. Avalie o contexto clínico, o risco real de bacteremia e se o resultado vai impactar sua conduta. Não fazer algo também é uma decisão médica válida e responsável.📄 Para aprofundar, consulte o artigo da IDSA (2020) e confira o fluxograma prático de decisão.